terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Assim é bem melhor

Era um fim de tarde qualquer num dia igualmente sem importância e lá estava eu, sentado em meu usual assento a bordo do ônibus rumo à minha casa. É nessas ocasiões em que costumo ficar admirando a paisagem enquanto reflito sobre minha vida, meus problemas e ouço música. Pode parecer estranho, mas é um dos poucos momentos em que eu costumo relaxar e colocar meus pensamentos em ordem com essa vida agitada entre trabalho e estudo em que levo. Se os oitenta minutos em que passo no ônibus são compostos de puro e completo ócio, então que sejam de ócio produtivo. Neste dia no entanto, foi diferente. Ao menos, um pouco diferente.

As pessoas tem a péssima mania de pensar que fico surdo enquanto uso fones de ouvido para ouvir música. Péssimo raciocínio, afinal de contas, por que diabos alguém surdo usaria um fone de ouvido para ouvir o que quer que fosse? Enfim, lá estava eu gozando de meu ócio produtivo (e surdo) quando ouvi alguém falando sobre mim a uns dois metros ao fundo. Como qualquer pessoa de bom senso, foquei minha atenção na conversa. Qual não foi minha surpresa ao descobrir que a guria que falava, dirigia comentários maldosos e sem fundamento à minha pessoa, baseada em sua grande perspicácia e subjetividade (leia-se: espalhando fofoca sobre mim, do nada).

Poucas coisas me chateiam mais do que soletrar Friedrich Nietzsche, mas uma delas, sem dúvidas, é saber que estão espalhando histórias falsas (e sem fundamento) sobre mim. Pensei em ir até lá e conversar com a guria, dizer a ela que é muito mal educado espalhar fofocas sobre pessoas, ainda mais quando elas estão presentes, e sei que ela sabia que eu estava presente pois subimos no onibus no mesmo ponto. Então me veio a cabeça que talvez ela houvesse pensado que eu não estivesse ouvindo, pois claro, é bem mais educado falar mal dos outros quando eles não podem lhe ouvir.

Prefiri me abster de qualquer ação, não gosto que nada interrompa esse momento de paz, sossego e solidão que tenho quase todos os dias indo e voltando da faculdade. E essa guria já havia me tomado tempo demais. Perdido em meus pensamentos, porém ainda chateado, pensei no que poderia me deixar contente novamente. Foi quando dirigi toda minha infelicidade para a guria e imaginei-a dançando a primeira música dos REB3LDES que me veio a cabeça, se é que de fato aquela gorda desajeitada conseguiria dançar qualquer coisa que fosse. No mesmo instante recobrei meu humor habitual: indiferente.

E lá estava eu novamente, pensando, olhando as árvores e ouvindo música. Surdo, é claro.