segunda-feira, 1 de fevereiro de 2010

comoção

Arthur poderia ter sido o rei da Inglaterra, mas preferiu se formar arquiteto em uma universidade privada. Explorar seu potencial nunca fora uma prioridade porque era muito cansativo e não sobraria tempo para assistir Seinfield.

Certo dia, zapeando os canais da TV entre Briget Jones e Grey's Anatomy, Arthur teve a idéia de desenhar um cômodo em forma de coração e para isso, usou o seu como modelo. Mas depois de alguns rascunhos, achou pouco funcional a forma padrão de coração e imaginou o seu como sendo retangular. Como a idéia o agradou ele não pensou em outra, embora mais tarde tenha percebido que um cômodo retangular era uma coisa completamente comum e fugia totalmente de sua idéia original.

Os móveis não combinavam uns com os outros porque foram comprados em épocas diferentes. O piso era de madeira polida, dura e inflexivem como seu pai. O papel de parede era florido e amarelo, com certeza algo retirado de algum lugar dos anos 50 que de certa forma o faziam recordar sua mãe. A cama, confortável e belíssima, estava sempre ali quando ele precisasse descansar seus problemas e Arthur se lembrou de tantas outras camas que ele um dia se deitou e percebeu que nenhuma era equiparável a Alice, ela definitivamente seria uma cama para o resto da vida.

Tantos outros móveis, prateleiras, livros, quadros e objetos decorativos entulhavam a visão de quem olhasse para o quarto, porque Arthur decidiu que o cômodo seria um quarto, porque seu coração deveria ser o lugar mais confortável. E então percebeu que tudo ali naquele lugar havia sido deixado por alguém que amava ou havia amado e embora pudesse, com certa dficuldade, substituir as camas, não conseguia se desfazer do resto. Cada objeto naquele quarto representava alguém e isso fez muito sentido quando Arthur percebeu que aquele peso de papel que representava seu colega de trabalho não se comparava em tamanho com a cômoda de seis gavetas que eram seus amigos.

Dentro dessas gavetas Arthur guardou coisas importantes para si e se surpreendeu quando imaginou a importância dessas coisas para seus amigos. E chorou. Havia um espaço vago entre a terceira e a quinta gaveta, uma delas se quebrou a muito tempo e foi jogada fora, mas o que Arthur guardava nela ainda estava espalhado no chão.

"Quem dera pudesse viver trancado neste quarto" pensou. Atravesou a porta, o papel e a tinta de volta à vida, dobrou seu desenho em quatro partes e em um deles desenhou uma fechadura. Guardou o papel na carteira e aproveitou para contar seu dinheiro. "Quanto deve custar uma tatuagem pequena em forma de chave?" sussurou. "O que disse?" vazou uma voz vinda de outro cômodo. "Não foi nada, Alice, meu amor. Vou sair um instante e já volto!".

"Que bom que saiu um pouco do quarto." Pensou Alice.

Arthur pensou o mesmo.

Um comentário:

Bianca disse...

fiquei feliz por ele. ainda bem que ele tem a alice em outro lugares que não só no coração. ainda bem.

(chorei)